Antonio Tabucchi morreu na manhã deste domingo em Lisboa, aos 68 anos. O escritor italiano, desde há muito ligado a Portugal, estava internado no Hospital da Cruz Vermelha, informou a viúva, Maria José de Lencastre.
Tabucchi era natural de Vecchiano, província de Pisa, e professor de língua portuguesa na Universidade de Siena. Apaixonado por Portugal, era também tradutor e crítico da obra de Fernando Pessoa, à qual chegou nos anos 1960.
Entre outras obras, Antonio Tabucchi escreveu uma comédia teatral sobre Pessoa. Entre os prémios que recebeu figuram o Prémio Médicis, por “Nocturno Indiano”, e o Prémio Campiello, por “Afirma Pereira” . Estava sempre na lista de candidatos ao Nobel da Literatura.
Entre as obras adaptadas para o cinema, destaca-se “Afirma Pereira” (1995), cujo protagonista foi Marcello Mastroianni, que contracena com Mário Viegas e João Grosso, entre outros.
Nas eleições europeias de 2004, o escritor participou na lista do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, na sétima posição, explicando que o importante era participar, que a sua candidatura visava defender a cultura e que estaria disponível também para integrar as listas de outro partido de esquerda, desde que tivesse sido convidado para tal e que se identificasse com as opções políticas.
Aliás, a nacionalidade portuguesa foi-lhe concedida em 2004, uma mera formalidade para quem costumava dizer que sonhava frequentemente em português.
Entre as suas obras figuram também “Pequenos equívocos sem importância”, “Une baule pieno di gente”, “Os últimos três dias de Fernando Pessoa”, “A cabeça perdida de Damasceno Monteiro” e “Está a fazer-se cada vez mais tarde”.
Pensador e interventivo
Nos jornais italianos, franceses ou espanhóis, Antonio Tabucchi foi ainda um pensador do mundo que o rodeava, contra a xenofobia e o preconceito, em particular voz crítica da governação de Silvio Berlusconi.
Em maio de 2008, no Unitá, Antonio Tabucchi mencionou os laços mafiosos de Renato Schifani, o advogado italiano que era um dos principais suportes políticos de Berlusconi. Repetia as informações que já eram conhecidas do público, precisando que o presidente do Senado italiano tinha sido absolvido apesar das suspeitas.
Apesar destes cuidados, Schifani não hesitou em processar o escritor e o montante astronómico da indemnização pedida fez soar os alarmes da defesa da liberdade de imprensa.
Um conjunto de intelectuais lançou então um apelo em forma de petição a favor de Antonio Tabucchi. Entre os primeiros subscritores encontravam-se os cineastas Theo Angelopoulos, Costa-Gravas, os escritores Philip Roth, Jorge Semprun e Fernando Savater. Na origem do apelo estavam dois portugueses, António Lobo Antunes e Mário Soares.
Em abril sairá “O tempo envelhece depressa”, pela editora D. Quixote, um conjunto de contos nos quais se debruça sobre a passagem do tempo, o passado e o presente.
Veja abaixo o final de “Afirma Pereira”, o último filme de Marcello Mastroianni, baseado no romance homólogo de Antonio Tabucchi.
Fonte: Esquerda.Net, 25/03/2012