Por que é que o baixo preço do petróleo é uma má notícia para a economia global?
A queda do preço do petróleo devia ser uma boa notícia para a economia mundial. Afinal, os baixos preços do petróleo beneficiam os consumidores diretos: por exemplo, o setor dos transportes e a indústria petroquímica. E esse impacto positivo deveria traduzir-se numa injeção de adrenalina que traria crescimento e criação de emprego. Então, por que é que o baixo preço do petróleo é uma má notícia para a economia global?
É verdade que a queda nos preços do crude deveria ter um efeito positivo sobre os preços de todo o tipo de bens. O petróleo é uma matéria chave que direta ou indiretamente entra na produção de quase todas as mercadorias que se produzem hoje em dia. Mas isso não quer dizer que automaticamente o efeito do colapso no preço desta matéria se traduza em reduções nos preços dos produtos finais. Tudo isso depende da importância do crude na estrutura de custos de cada produto e da estrutura de mercado em cada ramo da produção.
Quanto à importância do petróleo na estrutura de custos há muitos mal-entendidos. Pensa-se, por exemplo, que o baixo preço do petróleo beneficia os produtores de energia elétrica. A realidade é que só 5 por cento da produção de energia elétrica no mundo é produzida pela queima de petróleo. E um dos países em que se concentra essa pequena percentagem é precisamente a Arábia Saudita, o principal causador do colapso de preços do crude. Nos Estados Unidos apenas 0,7 por cento da energia elétrica produzida provem da utilização de petróleo (enquanto 4,2 por cento são produzidas por turbinas eólicas). A redução do preço do crude não tem qualquer impacto na produção de energia elétrica.
Por outro lado, na atualidade o preço do petróleo não está ligado aos preços do gás natural ou do carvão, que são as matérias que realmente contam no plano da produção de energia elétrica. No mundo, 23 por cento da eletricidade é produzida em centrais que queimam gás natural (nos Estados Unidos essa percentagem atinge os 28 por cento). Entre os anos 1998-2009 os preços de gás natural, carvão e petróleo estiveram estreitamente associados e moviam-se na mesma direção. Mas esse vínculo foi-se rompendo gradualmente, em parte porque o preço do gás de xisto caiu enquanto o preço do petróleo foi aumentando até 2014. O preço do carvão tem mantido uma tendência para a baixa, desde 2011, devido à concorrência de outras fontes de energia e ao persistente excesso de oferta pelos produtores na China. Isto é, os preços dos combustíveis fósseis que realmente contam em matéria de produção de energia elétrica já vêm mostrando uma tendência para a baixa desde há seis ou sete anos. Esse comportamento não tem sido suficiente para contrariar as tendências recessivas da economia mundial.
Nos Estados Unidos, a queda do preço do petróleo está a provocar um colapso na economia das regiões onde se desenvolveu o malogrado boom da extração de petróleo de xisto com a tecnologia da fratura hidráulica. Um número importante de empresas que se financiaram em Wall Street, para desenvolver os seus agressivos planos de investimento, está hoje na bancarrota. As instalações de controlo da extração direta de petróleo de xisto caíram 70 por cento, desde que começou a queda do preço do crude há um ano e meio. E o impacto disto no setor financeiro é significativo. Por esse motivo, verifica-se uma estreita correlação entre as quedas na bolsa de valores e os anúncios sobre as reduções recorde do preço do crude. Tudo isto alimenta o debate sobre se o aumento na taxa de juro decretado pela Reserva federal foi prematuro ou não.
Mas não são só os dependentes do fracking que estão a sofrer nos Estados Unidos. Os jazigos de gás natural proveniente do xisto na China constituem uma das maiores reservas a nível mundial. Mas o milagre da produção na China será afetado pelos baixos preços do gás natural e pelas importações provenientes dos Estados Unidos.
Em geral, o colapso do preço do crude é visto mais como um mau sinal sobre o que vai acontecer na economia mundial. A queda acelerada do preço do petróleo no último ano coincidiu com reduções brutais nos índices das cotações bolsistas das principais praças financeiras do mundo. E aqui verifica-se algo inédito. A Arábia Saudita não pôde escolher um momento mais desfavorável para iniciar a sua guerra de preços com o fim de preservar a sua (dominante) faixa de mercado. No meio de uma recessão global, a descida nos preços do crude tem de se intensificar devido à redução na procura. Por isso hoje em dia a queda no preço do petróleo é um sinal de como a economia mundial se está a comportar mal.
Artigo de Alejandro Nadal, publicado em La Jornada a 27 de janeiro de 2016. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net