por Juliano Medeiros *
O ano de 2017 está chegando ao fim. Foi um ano marcado por retrocessos, como a implementação da Emenda Constitucional 95, que congela os investimentos públicos por 20 anos, a reforma trabalhista, que retira conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras, a mudança no regime de exploração do pré-sal —da partilha para a concessão— e a retomada das privatizações em massa.
Foi, também, o ano da grande infâmia: por duas vezes seguidas, a maioria fisiológica da Câmara dos Deputados salvou um presidente ilegítimo das acusações de corrupção apresentadas pela Procuradoria-Geral da República.
Mas este também foi um ano de resistências. Em 2017, os movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda promoveram a maior greve geral da história do Brasil. Também derrotamos o decreto presidencial 9159, que extinguia a Reserva Nacional do Cobre, no Amapá.
A pressão popular ainda obrigou o governo a inúmeros recuos na tentativa de aprovar sua reforma da Previdência, impedindo até agora a retirada de direitos dos aposentados.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) esteve em todas as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras, da juventude, das mulheres, dos negros e negras, indígenas, quilombolas e da comunidade LGBT.
Apostamos no entendimento entre as forças do campo popular para enfrentar os ataques promovidos por Temer, especialmente através da articulação entre as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. Evidentemente, a unidade viveu altos e baixos, como ilustra a tentativa de cancelamento, por parte das maiores centrais sindicais do país, da greve nacional convocada para o último dia 5 de dezembro.
Diante desse cenário, o ano de 2018 aponta inúmeros desafios para as forças de esquerda. Enquanto o desemprego atinge quase 13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, o crescimento econômico no último trimestre não supera míseros 0,1%.
A proporção dívida/PIB alcança alarmantes 76%, enquanto a proposta orçamentária do governo Temer prevê uma redução de 82% nos investimentos públicos, pressionando especialmente as despesas obrigatórias em saúde e educação.
Por tudo isso, em 2018 o PSOL seguirá apostando na construção de uma ampla frente social contra os ataques de Temer e seu governo aos direitos do povo brasileiro, em especial, a reforma da Previdência.
Essa frente, porém, não deve ser confundida com uma frente eleitoral: nas eleições do próximo ano o PSOL apresentará candidatura própria à Presidência da República.
Acreditamos que nosso partido pode oferecer um nome que represente não só a resistência aos ataques promovidos por Temer, mas uma ampliação para além das fileiras partidárias, expressando o acúmulo das lutas dos movimentos sociais combativos, da Frente Povo Sem Medo e dos embates no parlamento.
Essa candidatura deve expressar, ainda, a negação da conciliação com as velhas oligarquias que promoveram o golpe institucional de 2016, afirmando claramente sua independência política em relação a esses setores. Uma candidatura, enfim, que represente um novo ciclo na esquerda brasileira.
Conforme decisão soberana de nosso 6º Congresso Nacional, o nome que representará o PSOL na disputa presidencial será definido em conferência eleitoral, no primeiro trimestre de 2018.
Tomaremos como ponto de partida para o debate programático o trabalho de centenas de ativistas sociais, lideranças populares e intelectuais progressistas que participaram da construção da plataforma Vamos, elaborada ao longo dos últimos meses.
Estamos prontos para assumir a responsabilidade de colaborar com o processo de reorganização da esquerda brasileira. Com generosidade, entusiasmo e sentido de urgência, mas sem abrir mão de princípios, convicções e de nosso compromisso com um Brasil socialista.
Juliano Medeiros é presidente da Fundação Lauro Campos, e foi eleito presidente do PSOL Nacional no 6º Congresso do partido, realizado em dezembro de 2017.
(Texto originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 13/12/207)