Por Francisvaldo Mendes
O carnaval de 2018 foi um dos melhores, que se tem registro na história dos carnavais, do ponto de vista da construção de uma consciência coletiva crítica. A arte com um tom crítico e mobilizador se fez presente nos enredos de várias escolas de samba, de múltiplos blocos carnavalescos e em músicas criadas por vários artistas desconhecidos para o grande público. Nos espaços públicos pulsou intervenções criativas que estimularam a busca de conhecimento, a consciência crítica e o ativismo, o que muitas vezes, inclusive, as pessoas não conseguem expressar, no dia-a-dia, de forma coletiva e organizada.
O processo de educação do nosso povo tem muita influncia da grade curricular rebaixada das nossas escolas. Não organizam, majoritariamente, para um processo de elevação da consciência crítica e dialética, mas para que o discurso dos poderosos apareça como história oficial. Por sua vez, o acesso ao conhecimento histórico, teórico, científico, acumulado na sociedade, quando organizado criticamente e dialeticamente, pode fazer das escolas um importante espaço para motivação e elevação da consciência. O que predomina, no entanto, é uma organização ideologicamente comprometida para manter a estrutura do sistema. Quando momentos de expressões coletivas, com alegrias e afetos, fazem pulsar a vida das pessoas, como nesse carnaval, cria-se uma expressão de alegria motivadora.
Infelizmente, governos com viés progressistas, ocuparam o planalto central, mas não investiram na conscientização coletiva e na potencialização da cultura. Por sua vez, dedicaram-se, com prioridade e quase exclusivamente, ao investimento para o consumo, com o discurso de suprir carências materiais. Claro que suprir carências materiais não é um detalhe, mas isso precisa acompanhar a participação ativa dos sujeitos, a alteração da superestrutura que ordena todo o processo, a diferença do tratamento de riqueza e salários e o investimento poderoso na ampliação da cultura popular. Do contrário, agradar-se-á a poderosa elite que domina, lucra e impões o lucro acima de todos os direitos, da vida das pessoas, das alegrias.
Nesse carnaval, a critica social levada às ruas e avenidas demonstraram que, apesar de quaisquer governos, o povo não é uma simples massa de manobra, que serve apenas como força de trabalho e enriquecer os “burgueses”. O povo, visto como os setores mais populares e todas as pessoas que trabalham para sobreviver, que historicamente e no seu dia-a-dia, emana criatividade é a verdadeira alma desse País. É esse povo, essa grande e numerosa quantidade de pessoas, que vive do trabalho, é quem constrói cada alicerce desse brasil. Mesmo com a poderosa corrupção estrutural que se unificada a exploração e a privatização ampla da natureza, que ceifa milhares de vida, em momentos como esse, nessa maravilhosa expressão popular que foi o carnaval de 2018, não consegue esmagar sonhos e esperanças.
O povo defende suas raízes mesmo que a mídia, esse covarde e poderoso monopólio, tente encobrir, a todo instante a história de dominação que poucas famílias impõem a maioria da população. O povo luta incansavelmente para sobreviver e oferecer aos seus, vida digna, moradia, condições de saúde, educação, transporte e vive com exaltação suas alegrias e tristezas.
A arte expressa nesse Carnaval, como em outros carnavais, impulsionou a verdade de que é possível fazer algo para transformar esse país em uma “nação da parcela da população que mais sofre com os desmandos das autoridades. Mostrou que as desigualdades, das mais escondidas as mais cruéis, que são impostas pela elite e predominaram e toda a formação social do Brasil. A escravização do negro, que foi transformado em coisas e negócios nos grandes portos brasileiros, segue hoje para todo o povo trabalhador e é orquestrado pelas ditas instituições democráticas. Os poderosos, com toda sua superestrutura organizadora, na qual o Estado ocupa lugar central de poder e vive, ainda hoje, do sangue e suor do povo trabalhador.
O que se tem que fazer é comemorar esse impulso de conscientização crítica que invade as casas das pessoas que, com seus trabalhos, sustentam a nação para contribuir com a capacidade de ganhar as mentes das pessoas em defesa de um projeto do seu próprio sujeito coletivo, a classe social que cada um de nós faz parte, sendo isso fundamental. Como bem mostrou a comissão de frente da Paraiso do Tuiuti, onde o capataz era um negro acoitando os demais e, na evolução do enredo, se arrependia quando construiu a consciência do que estava fazendo com o seu próprio povo. Assim temos que agir, assim precisamos ser, ter a capacidade apresentar de forma clara, assertiva e direta que nenhum de nós tem o direito de agir como capatazes de nossa própria classe ou grupo social, apesar de muitos serem ganhos para defender a ideologia dos de cima. É justamente ganhando essa consciência que cada um de nós, seremos os sujeitos da revolução nos tempos atuais.