Com o tema central nos “Povos, territórios e movimentos em resistência” e com o slogan “Resistir é criar, resistir é transformar”, o Fórum Social Mundial voltou a ser realizado no Brasil depois de sete anos. O evento ocorreu entre os dias 13 e 17 de março, no campus da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. A Fundação Lauro Campos participou das atividades do fórum com a construção de espaços como o “II Seminário Nacional dos Policiais Antifascismo” e de debates sobre os desafios da esquerda para 2018.

De acordo com o presidente da Fundação Lauro Campos, o Fórum Social Mundial é um importante espaço para envolver a população nos principais debates das organizações e movimentos sociais para a transformação social. “O envolvimento da população nos debates teóricos é importante, mas não podemos esquecer que o nosso foco tem que ser, também, o envolvimento na prática. O Fórum Social Mundial é fundamental para alinharmos as ideias de uma sociedade melhor, mas o mais importante é que o resultado desses debates, dessas ideias, seja a ação prática para as conquistas concretas para o povo”.

Na Tenda Povo Sem Medo, no FSM: Marielle, Sempre!

Na quinta-feira, 15, as atividades do Fórum foram interrompidas para a manifestação e homenagens para a vereadora do PSOL-RJ, Marielle Franco, brutalmente assassinada na noite anterior, na capital carioca. O evento “Desafios da Esquerda 2018”, programada pela Fundação Lauro Campos, que seria realizada na Tenda Povo Sem Medo durante o Fórum, com a presente o pré-candidato a presidente pelo PSOL, Guilherme Boulos, e a pré-candidata a vice-presidente pelo PSOL, Sônia Guajajara, foi transformada num espaço de homenagens de todos os partidos políticos e movimentos sociais presentes na UFBA.

Com cerca de mil pessoas, a Tenda Povo Sem Medo se transformou no ponto de encontro para de grande parte dos participantes do FSM para um ato de homenagem e de resistência do genocídio do juventude negra e das mulheres negras no país. Confira algumas falas das principais lideranças dos partidos políticos e movimentos sociais durante o ato:

Guilherme Boulos, pré-candidato à presidência pelo PSOL

“Quem cometeu esse crime, cometeu certo do sentimento de impunidade. Quem fez isso deu uma mensagem que não está nem aí para as consequências. Da mesma forma que todos estivemos juntos para enfrentar os demais ataques democráticos, nos esperamos todos juntos para enfrentar esse novo ataque democrático. Que as investigações sejam feita e que se encontre quem praticou esse crime e, sobretudo, os mandantes. Nós vamos honrar a caminhada de Marielle e, enquanto não tivemos respostas pra questão de quem matou Marielle, nós não vamos descansar um só segundo”.

Sônia Guajajara, pré-candidata à presidência pelo PSOL

“Nós sabemos quem matou Marielle. Foi o sistema econômico, foi o sistema político. Nós não podemos só denunciar não, vamos reconstruir essa história. Vamos reconstruir esse Brasil. Nós precisamos reagir, é agora!”.

Francisvaldo Mendes, presidente da Fundação Lauro Campos

“Hoje é um dia em que a gente tem que ter como marco da renovação da nossa luta. Só esse ano foram mortos mais de seis líderes comunitários. Além do trabalhador que é assassinado todo dia, estão querendo amedrontar quem é organizado. Estão querendo dizer que nós não temos direito à nossa casa, à educação, à saúde, estão querendo dizer que o Estado é deles e que o estados tem que ser usado só por eles. E que nós temos que servi-los. A morte de Marielle tem que ser um recado que nós vamos reagir. Nós não vamos ficar lamentando, nós vamos à luta, porque a Marielle era de luta. Essa é a nossa tarefa”.

Cleide Coutinho, militante PSOL – BA

“A gente precisa cobrar justiça. Porque, ontem, foi a Marielle. Amanhã, pode ser outras Marielles por aí. São Marielles que estão sendo mortas todos os dias. Ou nós, mulheres pretas, nos juntamos na luta. Ou nós mulheres pretas, vamos nos juntar nas estatísticas. A gente não pode deixar isso passar impune. A justiça tem que dar conta!”.

Ana Rocha, militante do PCdoB

“A morte da Marielle é um sinal para o Brasil. É um sinal que algo de podre está acontecendo nesse país. Cada crime político e de assassinato, como esse, nós temos que reagir. Porque, senão, isso não vai ter fim. Nós estamos vivendo um estado de exceção criminoso, que precisamos conter nas ruas”.

Inês Pandeló, ex-Deputada Estadual do RJ pelo PT

“Estamos vivendo uma ditadura disfarçada, mas é uma ditadura. Agora, com a intervenção militar, fica mais nítido. Esse assassinato mostra que existe, sim, um estado de exceção. O Rio de Janeiro tem sido um laboratório no Brasil de políticas de repressão, de retirada de direitos, de violência institucionalizada. Marielle era um símbolo da luta das mulheres e, mais que isso, era um símbolo da luta dos direitos humanos, da justiça e da democracia”.

Fábio Nogueira, presidente do PSOL – BA

“Nós vamos continuar lutando, para dar continuidade à luta de Marielle, para realizar o seu sonho de uma sociedade justa e igualitária, para um sociedade sem racismo e opressão. Não dá mais para assistir o que está acontecendo, precisamos ir para as ruas, precisamos radicalizar o processo político, radicalizar a democracia e, com certeza, muitas Marielles surgirão nesse país para fazer a luta e a transformação”.

Logo em seguida as falas, todos os participantes realizaram um ato contra o genocídio da população negra e em homenagem à Marielle na UFBA e nas ruas e avenidas ao redor do campus universitário.